sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Wando - Senhorita


                Vanderley Alves dos Reis, mais conhecido pelo público brasileiro como "Wando", foi um famoso cantor e compositor brasileiro, chamado também popularmente como "O Rei das Calcinhas".
                Wando nasceu em 2 de outubro de 1945 em um arraial chamado "Bom Jardim" no estado de Minas Gerais.
                Lá, ficava a fazenda que teria pertencido aos seus avós.
                Seu registro, no entanto, foi feito na cidade de Cajuri, no mesmo estado.
                Wando contou que, ainda criança, mudou-se para Juiz de Fora (MG), onde concluiu o antigo primário.
                Mais tarde, ele foi para Volta Redonda (RJ), onde trabalhou como entregador de leite em residências, entregador de jornais, feirante e até caminhoneiro.
                Na mesma época, passou a se interessar por música, tendo inicialmente se dedicado ao estudo do “violão clássico”.
                Nessa fase de sua vida, Wando descobriu que não era interessante o estilo de "violão clássico", pois ele queria fazer músicas para as mulheres, e em seu entender, esse estilo musical fazia com que elas ficassem "entedeadas".
                Wando então descobriu sua verdadeira vocação musical, a de criar músicas "românticas" direcionadas especificamente para as mulheres.
                Após deixar a profissão de feirante, Wando mudou-se para Congonhas, no estado de Minas Gerais.
                Lá, começou a “viver de música”, como integrante de um conjunto chamado “Escaravelhos” – “escaravelho pra quem não sabe, é um besouro, a mesma coisa que Beatles”.
                Cinco anos mais tarde, decidiu tentar a sorte no “eixo Rio de Janeiro – São Paulo”.
                Frustrada a passagem pelo Rio, chegou a São Paulo, onde teve gravado seu primeiro sucesso, na voz de Jair Rodrigues.
                A composição, “O importante é ser fevereiro”, teria sido “uma música muito tocada no carnaval de 1974”, lembrou-se Wando.
                A canção integra o disco de estreia de Wando, “Gloria a Deus e samba na Terra” (1973).
                De acordo com Wando, aquele trabalho seguia a linha “do formato do Caetano Veloso, do Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil”.
                A guinada em direção ao repertório romântico foi simbolizada pela música “Moça”, do disco seguinte, “Wando” (1975).
                A justificativa: “Cantando na noite em São Paulo, eu descobri que a parte feminina adorava quando eu tocava músicas românticas.”
                Ao longo da década seguinte, Wando consolidaria a reputação, como ele mesmo lista, de “obsceno, o cara da maçã, o cara da calcinha”.
                É desse período, quando o cantor já vivia no Rio de Janeiro, sua música mais conhecida, “Fogo e paixão”, do disco “O mundo romântico de Wando” (1988), o 14º da carreira, segundo a contagem do site oficial.
                Ele foi precedido por trabalhos como “Gosto de maçã” (1978), “Gazela” (1979), “Fantasia noturna” (1982), “Vulgar e comum é não morrer de amor” (1985) e “Ui – Wando paixão” (1986).
                Na sequência, viriam, dentre outros, “Obsceno” (1988), “Depois da cama” (1992) e “O ponto G da história” (1996).
                Entre álbuns de estúdio e registros ao vivo, o site de Wando contabiliza 28 trabalhos, ao todo.
                O cantor acreditava ter vendido dez milhões de discos – “até na época que a gente contava”.
                “Depois [houve] a história da pirataria, que acabou me fazendo muito mais popular.
                Eu acho que a pirataria é ruim para um lado, para o lado compositor, mas para o lado intérprete, o cara que faz show, eu acho que ela favoreceu muito.”
                Em entrevista à Agência Estado, em 2007, Wando comentou sua imagem de “sedutor”:
                “Na verdade, eu sou como um ator. Até porque eu estaria morto hoje se fosse mesmo assim.
                Isso é um personagem, naturalmente.
                É normal que as pessoas pensem que eu sou desse jeito, mas não deixo que as pessoas alimentem muito essa imagem”.
                Sobre a fama de brega, ele respondeu que incomodou e seguia incomodando.
                “Quando as pessoas falam de brega, sempre se referem a uma coisa ruim.
                Então eu brigo por isso.
                Agora, eles até quiseram colocar o brega como uma coisa bacana, mas eu acho que é uma forma de pedir desculpa, e isso é mau.
                Se for ver, você tem que chamar o Chico Buarque de brega, a Maria Bethânia, o Caetano Veloso e o Gilberto Gil dessa forma também.
                Eles gravaram as músicas que a gente grava.
                Eles gravam melhor? Não. Isso foi uma coisa cruel que eles fizeram.”
                Na entrevista, Wando também comentava a música “Emoções”, gravada em 1978, que ele dizia versar sobre a relação entre dois homens:
                “Fiz isso porque acho que o relacionamento masculino é uma coisa válida.
                Não por ter aderido, mas porque eu tenho amigos que vivem esse tipo de coisa”.
                Recentemente, o nome de Wando vinha sendo lembrado graças ao documentário “Vou rifar meu coração”, de Ana Rieper, que fez parte de principais festivais de cinema do país em determinada época.
                Há pouco tempo, teve boa recepção na Mostra de Cinema de Tiradentes, encerrada no último dia 28.
                O filme trata justamente da música tida como “brega” e traz depoimentos de cantores como Amado Batista, Nelson Ned, Agnaldo Timóteo, Peninha, além de Wando e de ouvintes que contam suas histórias com obras do “gênero”.

                Curiosidade:
                O Rei das Calcinhas:
                Em entrevista cedida por Wando, ele contou como começou a "história das calcinhas":
                [Eu fiz um disco em 1987 de nome "Tenda dos Prazeres".
                Sempre gostei muito dessa coisa de mídia.
                Acho que é a única forma de você mover o mundo e alertar as pessoas.
                Sempre achei que as capas de discos eram muito parecidas umas com as outras, então precisava de alguma coisa que chamasse a atenção e resolvi colocar uma calcinha na capa do disco.
                Por quê? Porque o disco se chamava ‘Tenda dos Prazeres’ e quando você olhava a calcinha na capa ficava realmente parecendo uma tenda. Coube perfeitamente.
                E isso para as agências de publicidade bateu como um canhão.
                “Pô, como esse cara foi pensar numa coisa tão simples se tratando de publicidade?”
                E transformou em uma mídia muito forte em todos os órgãos de comunicação e acabou virando uma moda.
                Aí comecei a distribuir algumas peças íntimas nos shows.
                Aí começou essa história de "calcinhas".
                As mulheres começaram a levar suas peças íntimas com telefone e recados de amor.
Começamos a fazer uma troca no show: eu dava uma calcinha que eu levava, e recebia outra.]
                Dessa forma, Wando viou "O Rei das Calcinhas", um carinhoso apelido que o público lhe deu, permanecendo até os seus últimos dias.

02/10/1945 - 07/02/2012